15/03/2009

Transliteração de Corpos


Transcrevemo-nos os corpos nos corpos,
Transliteração
Inspiração, transpiração
Conjugação inflamada de verbos imperativos
Na repetição de silabas ilógicas
Que nomeiam em perfeito as sensações
Primitivo dos desejos
Pretérito do gozo

Te leio estrofes, versos, palavras e letras
Ora braile, ora minhas mais variadas línguas
Te fazendo cantar
Doce, estridente, suspiros e gritos
Melodia de notas agudas
Letra, poesia da carne
Refrão que repete, repete e repete
Nessa afinação penetrante
Musica de fundo, de frente, de lado
Da ritmo e define os compassos da Dança

Esse bailar de corpos desnudos
Tangos e bossas
Fazer dessa cama carnaval da Bahia
Regidos por essa bateria de chocar de íntimos
E você a portar a minha bandeira
Cadencia, Harmonia
Apoteose

11/03/2009

Sombras de Mim


Paradoxo personificado
Sou paralelo, reticente, profilático
Catatonia progressiva
Travestida de mistérios

Em peripécias constantes
De ensejos contingentiados
Escarmento-me
Por erros apenas temidos

Passageiro desgovernado de mim
Gerador de fatos
Notado sempre
Nunca conhecido

Por meu passado manchado
Tornei-me mero plano futuro
Do meu presente incerto
Sombras de mim


Ítalo Bbg

01/03/2009

Perdendo-me


Continuo a transcrever-me por linhas tortas
Em papel avulso, lacrado
Riscado em dobras, rascunho de mim

Sinto-me língua morta
Por entre gírias tão populares
E esse meu grito mudo, em que me resumo
É sempre contra mão de respostas

Transeunte
Por discrepantes multiplicidades de vidas
Não sucedendo
Transfiguro-me em mascaras
Sobrepostas em desarranjo

Carta fora do baralho
Dissimulo-me
Na ânsia de me tornar mera peça lograda
Desse jogo da vida, sem regras
Complexo quebra-cabeça

Ítalo Bbg

16/02/2009

Lhe Partindo em Multiplos Orgasmos


Sinto-te como um imã
Perto de você, sou fortaleza em aço
Forjados juntos no fogo
O teu em mim que dilata
A minha em te que se abre

Faz de mim metamorfose
Mas deste casulo, me saiu touro
E quando suas partes, em manto vermelho
Te vejo toureiro
Mas você não se esquiva

Em suas planíces negras
Montes, cumes e curvas
Desvendo erógenos
Tectônica de peles
Terremoto em leitos

Cavalgando em tuas ondas
Me engole sedenta
Faz de mim sua laranja
A extrair o meu suco

E nas águas turvas
Sua estrela eriçada
E minha serpente orgulhosa
Que nunca se curva
Rasgando teu mar
Lhe partindo em múltiplos orgasmos
Ítalo Bbg

14/02/2009

Angustia


Ele esta exausto, parece ceder. Mas não será hoje que seu rosto sentirá o gosto do asfauto, pois a raiva da própria impotência vai o mantendo em pé. Transcendeu a mera coexistência com a dor. Um grande vazio cresce em seu interior, cada dia mais pesado, cheio tudo aquilo que não “é”, as cinzas do passado que não volta, e o sangue que ainda escorre dos abortos forçados de futuros sonhos. Paradoxos da angustia que agora alicerçam seu mundo. Mesmo abraçado a mil grilhões ele segue, cada respiração ofegante entra rasgando a alma, dilacerando os sentidos, como um gole de vodka da garrafa que agora segura em uma das mãos. Na outra mão, cada traço vai violando o papel, abrindo feridas na alma, que nunca se calam, mas o calam.

Ítalo Bbg